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Lembretes

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terça-feira, 1 de junho de 2010

Sobre Louise Bourgeois e sobre gostar


Louise Bourgeois partiu hoje. Uma vida inteira dedicada à arte. Não é uma artista de fácil assimilação. O gozo, o objeto, o abjeto, o estranho, o  inconsciente, sempre foram a matéria de sua arte. Procurei nos meus arquivos algum texto sobre ela, além de fotografias de suas obras que colhi nos museus do mundo. Encontrei um texto escrito para meu antigo blog. Não fala diretamente de Bourgeois, mas de minhas referências artísticas, musicais e até literárias. Na verdade, é uma brincadeira com as palavras depois de um show da vanguarda paulistana. Achei interessante colocar aqui, porque fiquei pensando que este texto explica porque minha área de interesse é a literatura contemporânea. O amado de que o texto fala não existe mais. Ainda bem que algumas pessoas são transitórias. Só a arte é eterna. No entanto, a minha crença na diversidade, na curiosidade, continua inabalável. Nossos gostos, sejam eles musicais, artísticos ou literários, devem fazer parte do nosso corpo, isto é, devem nos provocar sede e desejo, loucura e prazer. 

O texto, pois: 

Texto com pretensão de humor depois de show da vanguarda paulista, sei não

falei para o amado que a culpa é do binho; foi ele quem entortou meu ouvido, quem me fez amar a vanguarda - a literária, a musical. por conta e risco, estendi o amor também às artes. não posso ver um cu de jia do tipo da música do mestre zeca baleiro que já saio alardeando. essa coisa de conhecer gente dá nisso: lá no interior das europas, a driamada teimou de explicar a mim e a mari porque um varal de roupas com toalhas encardidas estendidas era arte. eu acreditei que é uma beleza, que não sou de discutir com gente mais sabida que eu. se está dito, creio. daí que fico abestalhada diante da fonte de duchamp e também da fonte de niki de saint-phale e jean tinguely. e derramo lágrimas de admiração e amor diante dos rabiscos de basquiat e mais ainda dos de pollock, sem contar no caralho rosa gigante da louise bourgeois, que, se pudesse, traria para casa e colocaria pendurado no teto do meu quarto, igualzinho como ele está lá na tate gallery.

gostar da vanguarda paulista é, portanto, apenas mais um dos meus desvios de personalidade. itamar assumpção é meu deus; o maior músico de todas as eras e lugares não importa o que cante ou deixe de cantar o beleléu vulgo nego dito. com aquele sorriso meio de lado, ná ozetti é minha diva linda meiga discreta. suzana salles cantando em russo é de me levar às lagrimas. ainda tem vânia bastos; doidinha com seus gritos bem afinados. e dante ozetti, e wisnick sabido meio chato. todos bebem da fonte vocálica e humorado do duende luiz tatit, o mestre dos mestres do guarda-chuva da vanguarda paulista e tudo vem do rumo. e, claro, tem arrigo barnabé com suas máquinas de dissonâncias, embora o amado amaldiçoe a cada segundo chegando a me proibir de escutá-lo no carro - quando eu já estava preparadíssima para ouvir de uma vez por todas a caixa de cds que acabara de adquirir após o show fora de hora dos vanguardeiros já cinquentões na certa. coisa linda seria, que celebração, nas ruas de são paulo, a cidade-musa da vanguarda, sentindo cheiro de fumaça, ouvindo buzinada, ver cineminha de clara crocodilo. o amado não entendeu que seria um idílio amoroso em busca do orgasmo total em algum drive da cidade suja; ainda bem que de itamar gosta, senão seria divórcio na certa.

e os herdeiros. não herdeiros da estirpe de maria rita e pedro camargo mariano. coitada da elis que pôs no mundo essa gente esforçada mas nunca suficientemente tal. sou mais dona zica e sua verve quase tão desbocada, quase tão deslocada como os pais assim os disseram. e ainda arnaldo antunes, herdeiro de todas as vanguardas, seja a paulista, seja a concreta, seja tribalista seja solo, embora ele negue tudo e confirme tudo, em um samba de crioulo do asfalto digno de herdeiro esquisito; por ele suspiro e tenho anseios de mocinha vendo novela das oito e morro de inveja da marisa monte que é sua amiga mais que amiga. tenho vontade de lhe escrever cartas por falta de não saber escrever poemas como aquelas prosas caligráficas que ele faz tão bem. E tenho ânsias de dar gritinhos de lindo lindo. só me contenho porque já tenho mais de trinta, mas não me contento e solto meus assovios desafinados. depois de show assim, me dano a pensar.

binho dri bado alberto cy arnaldo arrigo itamar zica que zica livro vídeo performance cd lixo luxo pollock louise giacometti brennand farnese beckett kafka artaud mari denise jéssica halem maneca marcio manu verinha fa nilza ferdin márcia aninha rivero paulo marcos. toda essa gente cabe aqui em mim. porque gente é gente quando entende da arte de entortar pensamento. da arte de desentender.
 

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