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Lembretes

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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Satolep, de Vitor Ramil

Meu caso de amor com Vitor Ramil é antigo. E é musical. Fã de carteirinha. De ir ao show, pedir autógrafo e tirar fotografia ao lado. Então, ler Satolep é uma extensão desse amor. É uma declaração deste amor. Este livro é também uma declaração de amor à cidade de Ramil, Pelotas. A história se faz a partir de fotografias da cidade antiga. Vemos os casarões antigos, as ruas, as praças... O preto e branco enche-nos de nostalgia. Mas a história não é nostálgica. Surpreendentemente, é quase um suspense, movido pelo fantástico, em que cada lance é decidido pelas fotografias. E mesmo com a instauração do fantástico, a narrativa é sóbria. Para o narrador, trata-se de não aceitar que a Satolep que ele vê seja ruínas um dia, enquanto que para o autor trata-se de fazer mover a memória - pessoal, insubstituível, fantasmagórica - para não se deixar vencer pela desaparição inevitável. Vê-se uma Satolep que não mais existe.

Assim, as histórias das personagens funcionam como uma forma de provar a existência do que não existe mais. O fotógrafo que retorna à cidade, renegando a casa do pai e se encontrando com personagens próprias e ilustres do Rio Grande do Sul, quer, no fundo, não se deixar vencer pelo esquecimento. Daí que a lógica das fotos não é óbvia. Elas são não "o que aconteceu", mas o que acontecerá, como se o ser humano, e só ele, pudesse refazer tijolo por tijolo aquilo que o tempo fez desmoronar. Daí a narração para interlocutores que só têm voz no último texto ser tão necessária (não vou dizer aqui que, virtualmente, somos nós leitores esses interlocutores, porque estou farta de textos que aludem ao leitor!) . É a narração que presentifica as fotos, que esvai a nostalgia, instalando o suspense.

Como está dito em algum lugar do livro: "o inesperado é a regra".
Queria ser aquela que fotografou a cidade da infância.
Por diversas vezes, pensei nisso.
E por diversas vezes adiei esperando ter a máquina perfeita.
Quando vou aprender que o tempo leva tudo?
E que não adianta esperar?
Queria eu escrever as memórias da minha cidade.

Seriam memórias totalmente opostas, é certo. Porque o frio, a bruma, a umidade tomam conta de Satolep, assim como o sol toma conta do Nordeste brasileiro, de onde vim. É a estética do frio de que fala Ramil e que, no livro, está na boca, por exemplo, do Cubano: "o frio geometriza as coisas"; um frio que não vai embora nem quando o calor começa. Pelotas como lugar frio é uma maneira de demarcá-la como diferente, apreensível apenas para aqueles que, como o personagem Selbor, a vivencia através de seus mitos, seus homens, de uma forma particularizada e poética.
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* Escrito por Milena

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